Crise do clima será pauta fundamental nas eleições municipais
‘Acima da média’ é o termo mais ouvido nos últimos anos e, daqui para a frente, fará parte do cotidiano. Mais dias quentes e ondas de calor intensas. Mais períodos frios, chuvas excessivas, secura e baixa umidade. Os cientistas e ambientalistas alertam há tempos, mas o grau de frequência aumentou, e nossas cidades não estão preparadas para enfrentar tragédias climáticas.
Nos próximos meses, candidatos a prefeito e vereador farão campanha para a eleição de outubro. Será deles a responsabilidade de preparar nossas cidades para o futuro, que já é o presente. Para tanto, as agendas ambiental, social e climática devem fazer parte das prioridades. Caso contrário, continuaremos a presenciar tragédias climáticas “acima da média”.
É triste ver o terrível momento por que passa o Rio Grande do Sul diante da calamidade e do impacto direto na vida, história e memória das pessoas. Toda a nossa solidariedade a elas. Enquanto o cenário ainda é crítico, temos de olhar para passado e futuro. Precisamos nos munir de planos de prevenção, alerta, contingência, adaptação e mitigação ante as mudanças climáticas.
Segundo levantamento do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), vinculado à Secretaria de Estado de Economia e Planejamento do Espírito Santo, das 27 capitais brasileiras incluindo o Distrito Federal, 15 não contam com o Plano de Mudanças Climáticas. No universo das 16 capitais dos 17 estados abrangidos pelo bioma Mata Atlântica, seis não elaboraram um plano climático: Aracaju (SE), Campo Grande (MS), Maceió (AL), Natal (RN), Porto Alegre (RS) e Vitória (ES).
No contexto dos 3.429 municípios da Mata Atlântica, a maioria não possui planos de ação climática, e a urgência é maior para aqueles localizados em regiões mais frágeis e áreas costeiras. É no bioma que vive cerca de 70% da população brasileira.
A luta pelo desmatamento zero continua. Segundo dados apresentados por SOS Mata Atlântica, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e MapBiomas, a supressão da vegetação nativa ainda é preocupante no bioma mais devastado do país, enquanto a pauta deveria ser restauração e adaptação.
“Acima da média” é também o ataque à legislação ambiental. Como apontou levantamento feito por especialistas a pedido do GLOBO, o Congresso Nacional aprovou, ao menos, 11 leis para afrouxar normas de proteção ambiental na última década. E o problema persiste, pois avança por lá o “pacote da destruição”, com ameaças à Mata Atlântica e flexibilização que podem trazer retrocessos e mais desmontes, no caminho contrário à proteção ambiental e às emergências impostas pelas mudanças climáticas. Uma luta urgente que conta com a participação atenta e efetiva da sociedade.
Para o futuro, o país precisa garantir políticas positivas mais robustas e avançar efetivamente na agenda de adaptação e mitigação climática, com empenho na preservação dos biomas e na restauração dos ecossistemas, em mais áreas protegidas e soluções baseadas na natureza e em modelos de desenvolvimento aliados à conservação dos nossos patrimônios naturais e à segurança para os povos, populações e comunidades locais.
Por: Márcia Hirota (presidente do conselho da Fundação SOS Mata Atlântica)