Carnaval: Festa popular que movimenta o Brasil
O carnaval é uma tradicional festa popular realizada em diferentes locais do mundo, sendo a mais celebrada no Brasil. Apesar do forte secularismo presente no carnaval, a festa é tradicionalmente ligada ao catolicismo, uma vez que sua celebração antecede a quaresma, período de 40 dias antes da Páscoa caracterizado pelo jejum.
Significado da palavra CARNAVAL – O carnaval não é uma invenção brasileira, sua origem remonta à antiguidade. A palavra carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é “retirar a carne”. Esse sentido está relacionado ao jejum que deveria ser realizado durante a quaresma e também ao controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de controlar o desejo dos fiéis.
História do Carnaval – Com o surgimento da agricultura na Grécia no período 600 A.C., os homens passaram a comemorar a fertilidade e produtividade do solo. O carnaval pagão começa quando se oficializa o culto a Dionísio na Grécia do século 7 A.C. e termina quando a Igreja Católica adota a festa em 590 D.C. O primeiro foco de concentração carnavalesca se localiza no Egito.
A festa era nada mais que dança e cantoria em volta das fogueiras. Os foliões usavam máscaras e disfarces simbolizando a inexistência de classes sociais. Depois a tradição se espalhou pela Grécia e Roma, entre o século 7 A.C. e 6 D.C. Mais tarde, o carnaval chega a Veneza para então se espalhar por todo o mundo. Afirma-se que foi lá que a festa tomou características atuais: máscaras, fantasias, carros alegóricos e desfiles.
O carnaval cristão passa a existir quando a Igreja Católica oficializa a festa. Antes a Igreja condenava o evento por seu caráter pecaminoso. No entanto, autoridades eclesiásticas da época se viram num beco sem saída, chegando a conclusão que não poderiam proibir uma festa popular como o carnaval.
Origem do Carnaval – Na Babilônia, duas festas possivelmente originaram o que conhecemos como carnaval. As sacéias eram uma celebração em que um prisioneiro assumia, durante alguns dias, a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado.
Outro rito era realizado pelo rei no período próximo ao equinócio da primavera, um momento de comemoração do ano novo da Mesopotâmia. O ritual ocorria ao templo de Marduk (um dos primeiros deuses mesopotâmicos), onde o rei perdia seus emblemas de poder e era surrado na frente da estátua de Marduk. Essa humilhação servia para demonstrar a submissão do rei à divindade. Em seguida, ele novamente assumia o trono.
O que havia de comum nas duas festas e que está ligado ao carnaval era o caráter de subversão de papéis sociais: a transformação temporária do prisioneiro em rei e a humilhação do rei frente ao seu Deus. Possivelmente a subversão de papéis sociais no carnaval, como os homens vestirem-se de mulher e outras práticas semelhantes, é associável a essa tradição mesopotâmica.
A associação entre o carnaval e as orgias pode relacionar-se com as festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos). Seriam eles dedicados ao Deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos), marcados pela embriaguez e pela entrega dos prazeres da carne.
A lógica que regia as festas da antiguidade era a mesma para o carnaval na Europa da Idade Média e Moderna: o mundo de cabeça para baixo. Sendo assim, tratava-se de um período de inversão proporcional da ordem, portanto, as restrições das vidas das pessoas eram abolidas, e os papéis que existiam naquela sociedade, invertidos.
Carnaval no Brasil – A origem do carnaval no Brasil remete ao período colonial. Na época, havia uma brincadeira de origem portuguesa chamada entrudo. Essa foi uma das primeiras manifestações carnavalescas no país. O entrudo era um jogo em que os escravizados saíam às ruas jogando água, farinha, polvilho, limão de cheiro, tinta, café, lama e até urina uns nos outros. Essa prática também antecedia o período da quaresma e tinha a mesma finalidade: a possibilidade de fazer as pessoas se libertarem. Como o jogo era considerado violento e ofensivo pela elite brasileira, o entrudo foi proibido em 1841, mas a prática continuou até meados do século 20.
Embora as pessoas das classes sociais mais altas da época desprezassem a brincadeira popular, também queriam novas formas de celebrar o carnaval. Foi aí que começaram a surgir os bailes de máscaras, que geralmente ocorriam nos salões e teatros. Mas a festa logo ganhou as ruas. Começavam a aparecer os cordões de rua, voltados para as classes mais baixas. Daí em diante, surgiram os ranchos, corsos e escolas de samba.
Em um período mais recente, a tradição ganhou os frevos, afoxés, maracatus, marchinhas e cada dia que passa, outros gêneros musicais são incorporados ao carnaval do Brasil. Em algumas cidades, o carnaval de rua ainda guarda elementos do entrudo.
Em Salvador, as “guerras de água” são muito comuns em alguns blocos. O primeiro registro de um baile de carnaval no Brasil data de 1840. E em 1855 surgiram os grandes clubes carnavalescos, precursores das atuais escolas de samba.
Carnaval nas diferentes regiões do Brasil
Região Sul – O carnaval no Sul, principalmente em Florianópolis, mistura vários elementos, com desfiles de escolas de samba, clubes e blocos de rua. Em alguns complexos acontecem festas com DJs nacionais e internacionais. Já no centro da cidade, a passarela Nego Quirido, conta com o desfile das escolas de samba da região.
Sudeste – A comemoração da Região Sudeste é muito parecida com a do Sul. Nas capitais São Paulo e Rio de Janeiro, contamos com os desfiles das escolas de samba mais famosas do país, inclusive transmitidos pela televisão, nos Sambódromos Anhembi e Marquês de Sapucaí. Na maioria das cidades da região, se apresentam os blocos de rua. Alguns clubes de cidades do interior também contam com festas particulares, com muita música, samba e marchinhas de carnaval.
Centro-Oeste – Um dos carnavais mais tradicionais do Centro-Oeste ocorre em Goiás. A programação inclui marchinhas para animar os foliões e o show de diversas bandas, de gêneros variados, que ocorrem nas praças das cidades. A região também conta com desfiles de escolas de samba.
Nordeste – O Nordeste possui comemorações variadas. Na Bahia, por exemplo, temos os famosos trio-elétricos, onde se apresentam alguns dos artistas mais famosos do Brasil. É o famoso carnaval de rua, acompanhado pelos foliões. Por esse circuito passam mais de 150 blocos organizados e cerca de 2 milhões de pessoas durante os dias de festa. Ainda na Região Nordeste, temos o carnaval de Olinda e de Recife, onde o frevo e o maracatu reinam durante a comemoração. São diversos blocos, mas o que chama mais atenção no carnaval de Olinda são os tradicionais bonecos gigantes, tão característicos da cidade
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Norte – As festas do Norte são muito ligadas ao folclore. Por exemplo, em Manaus, acontece a Festa do Boi (boi-bumbá), que se realiza junto com a comemoração do aniversário da cidade e tem a duração de três dias consecutivos. A festa leva em torno de 200 mil pessoas ao Sambódromo da cidade. O público dança ao som das tradicionais músicas, vestindo os tururis (abadás), acompanhando os trios elétricos, com escolas de samba com músicas de influência indígenas, que dançam uma coreografia impressionante.
A festa e a economia – O carnaval não é apenas um bom feriado para viajar livre do estresse do trabalho e das responsabilidades do cotidiano. O período também é um dos mais impactantes do Brasil, responsável por movimentar boa parte da economia em setores como turismo e negócios, influenciando positivamente no cenário econômico geral do país pelo resto do ano.
O faturamento do período representa 3% do total gerado anualmente pela indústria de viagens e turismo. Entre os visitantes estrangeiros, a maioria é proveniente de países como a Argentina, Estados Unidos, Paraguai, Chile, Uruguai, França e Alemanha.
Como mostram os números, a cadeia produtiva de um carnaval é um tanto complexa e envolve diferentes setores da economia. Até a hora em que a primeira escola de samba abre os desfiles na Marquês de Sapucaí, por exemplo, o carnaval já influenciou a atividade industrial, o dia a dia das agremiações e atividades paralelas que sofrem efeitos indiretos da festa, como o setor de comidas e bebidas, turismo e o mercado fonográfico.
Com a emergência sanitária causada pela Covid-19, nos últimos dois anos, a indústria do carnaval sofreu grandes perdas financeiras. O impacto vai desde a queda de receitas até os reflexos na vida dos trabalhadores da extensa cadeia que envolve toda a economia do carnaval.
Fonte: NeoEnergia